Recordo de ser miúda e de não dar importância nenhuma aos brinquedos dos meus amigos das casas que tinham , às roupas que vestiam...
E quando digo "dar importância", não me refiro a “rotular” os meus amigos como ricos ou pobres, com bom ou mau gosto, e seleccioná-los a partir daí. Não... não dava mesmo importância nenhuma.
Hoje olho para trás e lembro com dificuldade que a casa da Paula tinha dois andares, que a da Carla era só um quarto, que o João tinha sempre os últimos modelos de motos e que a sua casa parecia um museu, e das “loirinhas" que moravam no barraco em frente à minha casa, que nos tocavam a campanhia a pedir pão e aguardavam os nossos brinquedos. O meu esforço não é para lembrar, mas sim para distinguir. Porque naquela altura não havia diferença entre uma casa e um apartamento num bairro social. Não interessavam os metros quadrados, as marcas, os preços, as origens... "Brincar" era sempre brincar, fosse com quem fosse, com o que fosse ou como fosse. O que importava era brincar!!
Por isso às vezes, quando me meto a observar a sorte que os meus filhos têm por terem um bom apartamento e uma vida aconchegada, recuo no tempo e percebo que não é isso que lhes faz mais falta nesta fase da vida deles. Não é isso que eles lembrarão quando tiverem a minha idade. O que relembrarão serão os sorrisos, as brincadeiras, a forma feliz como conseguiram (ou não) passar o tempo, seja numa fortaleza ou na rua, com os brinquedos XPTO ou um simples punhado de areia para fazer um castelo. Porque o que fica e se revive não custa dinheiro. Só tempo...
(o tempo que dedicamos para ter dinheiro. Não faz sentido, pois não?)
sinto-me: Nostalgica